terça-feira, 21 de outubro de 2014

Consumo & Mercado para arquitetos


(2014out21)

Um ano mais tarde...  A semente volta a germinar. 
(Deve ser o retorno das chuvas, não sei).

Bem, muito me incomoda a ausência/inconsistência de um 'mercado' para a arquitetura - principalmente para quem está começando.Há muita discussão possível; mas fazendo uma comparação básica, arquitetos não têm 'reserva de mercado'.  Vamos lá.

Advogados são regulados pela OAB (que também regula o volume de profissionais disponíveis), e grandes firmas não investem em pequenas ações (são repassadas a pequenos profissionais, ou funcionários em início de carreira); há grande oferta de concursos públicos (para entrar nos Ministérios Públicos via concurso, ou é como advogado, ou como faxineiro); e grosso modo, para você entrar com um processo/recurso, é fundamental um advogado adiante (que vai 'garfar' 30% do que você obter, SE obter).

Médicos são altamente corporativos; perceba que TODO DIA há concursos públicos chamando médicos para grandes, médias e pequenas cidades (com salário realmente impressionantes).  É comum um médico atender em Hospital de manhã, e manter sua clínica à tarde (a jornada de trabalho em Saúde é de 06h diárias, teoricamente pela insalubridade existente).  Há questões trabalhistas intrínsecas; a Medicina do Trabalho/PCMCO obviamente só pode ser exercida por médicos. Finalmente, há diversos medicamentos que só são liberados com aval do médico (como antibióticos ou antidepressivos).  

Dentistas seguem a mesma lógica que médicos; sem contar o conhecimento e equipamentos intrínsecos (todos aqueles robozinhos e luzes!).  Alguém já tentou extrair um dente sozinho? (Excluindo o Tom Hanks em 'Náufrago',,,).

Engenheiros também são imprescindíveis, principalmente na questão do cálculo de uma estrutura (qualquer estrutura, desde estruturas de edifícios, passando por cargas elétricas, fluxo de ar/fluidos, etc), sem contar sua função de gerenciamento; obras, tráfego, produção, logística, etc.  Há chamamentos diários para concursos públicos, inclusive para empresas privadas (quantas 'vaga de trainee para arquiteto' você já viu?).  E questões trabalhistas formais, Segurança do Trabalho, atestados para equipamentos dentro das NBRs.

Arquitetos, bem...  Conte quantos concursos públicos exigem arquitetos (e que efetivamente pagam o piso!).  Devemos verificar, com cautela, nas novas normas do CAU, as funções privativas do arquiteto, e quais as penalidades a quem não se enquadra.  

Esta lista pode ser muito mais extensa, envolvendo diversas profissões e funções - e permeia ainda outros campos da sociedade. Afinal, quantos prefeitos/políticos você conhece que são médicos?  E engenheiros? E advogados?  E enfermeiros?  E contadores?  E latifundiários? E líderes religiosos?  E cientistas políticos? E líderes populares?  E músicos?  E comediantes?  Ok, e quantos são arquitetos?

De outro modo; quantos casos você já acompanhou que FOI EXIGIDA a participação de um arquiteto?  Seja construindo uma casa/reforma, ou desenvolvendo um produto, ou executando um quarteirão inteiro (!). Pense em oferta X demanda e em que momento do processo, o arquiteto é imprescindível, seja por seus conhecimentos, seja por legislação?  (agradeço quem me esclarecer).  

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Há mais discussão por trás, mas os 'novos mercados' romperam em parte com a 'assimetria da informação' - uma teoria que sustenta que a diferença entre comprador X vendedor/especialista é o acesso à informação crítica.  

Faça um passeio em uma loja de acabamentos, e perceberá que o vendedor 'leigo' conhece mais de pisos e acabamentos que o arquiteto; verifique na internet (excelente ferramenta para buscar informações) sobre 'como desenhar minha casa' ou coisa que o valha, e conseguirá programas gratuitos 3D que põem sua idéia no papel e até  organizam orçamentos... Converse diretamente com o empreiteiro, que vai executar uma obra sem planejamento mas que acompanhará sua linguagem (a um preço surreal)...

Recentemente, houve a normatização NBR 16280:2014, exigindo a participação de um técnico em reformas internas; seja arquiteto ou engenheiro.  É uma lei que já existia, e que décadas mais tarde é referendada por uma norma - mas que ainda assim não garante vagas exclusivas para arquitetos...

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Questionarão se estou defendendo a 'reserva de mercado'. Bom, sim e não.  As funções exclusivas se devem à formação, capacidade, exigências

Conhecimentos específicos do arquiteto estão sendo 'comidos' pelo acesso farto à informação, e ao 'acho que também consigo fazer' - um viva (cauteloso) ao arquiteto que existe dentro de todos nós.  Mas entendo que as gerações profissionais anteriores se omitiram quanto a Leis/Normas que exigissem exclusividade.  

E é possível 'gerar emprego' com uma canetada? Que tal regular cimento como antibiótico?  Para comprar acima de 50kg  de cimento CPII, você precisará de uma ART/RRT específica, 'recomendando' tal compra (pode até reter a tal folhinha azul).

Gerar empregos e empilhar papéis.  Sem nenhuma garantia de solução de problemas da profissão...