Retomando a questão de 'um campo de trabalho para os arquitetos', vejam que apenas recentemente está sendo retomada a proposta de 'carreira de Estado para arquitetos e urbanistas'. (http://www.caubr.gov.br/?p=34153)
Também, uma olhada nas reclamações na mesma página explicitam a dificuldade de trabalhar como arquiteto dentro da máquina pública, em qualquer esfera, e ser bem remunerado... (www.transparencia.sp.gov.br) (No Poder Executivo de SP, a carreira de arquiteto e engenheiro têm o mesmo salário direto).
Temos aí uma recém eleita composição do CAU. Torço para que os envolvidos com a ASBEA se preocupem também com a remuneração dos profissionais que não estão no mainstream (aqueles que estão na 'selva', conforme uma colega). Já que a própria carta de compromissos da chapa Arquitetura Paulista não cita valorização do profissional e seu salário, apenas organizar os 'jovens arquitetos espalhados' (mão-de-obra barata dispersa?).
Além de ser uma chapa com formalização bastante estranha... (desconheço todos os detalhes que possam explicar o fato) (http://novo.causp.org.br/?p=11826).
TJLNV, sp, 2014nov
(2014out21)
Um ano mais tarde... A semente volta a germinar.
(Deve ser o retorno das chuvas, não sei).
Bem, muito me incomoda a ausência/inconsistência de um 'mercado' para a arquitetura - principalmente para quem está começando.Há muita discussão possível; mas fazendo uma comparação básica, arquitetos não têm 'reserva de mercado'. Vamos lá.
Advogados são regulados pela OAB (que também regula o volume de profissionais disponíveis), e grandes firmas não investem em pequenas ações (são repassadas a pequenos profissionais, ou funcionários em início de carreira); há grande oferta de concursos públicos (para entrar nos Ministérios Públicos via concurso, ou é como advogado, ou como faxineiro); e grosso modo, para você entrar com um processo/recurso, é fundamental um advogado adiante (que vai 'garfar' 30% do que você obter, SE obter).
Médicos são altamente corporativos; perceba que TODO DIA há concursos públicos chamando médicos para grandes, médias e pequenas cidades (com salário realmente impressionantes). É comum um médico atender em Hospital de manhã, e manter sua clínica à tarde (a jornada de trabalho em Saúde é de 06h diárias, teoricamente pela insalubridade existente). Há questões trabalhistas intrínsecas; a Medicina do Trabalho/PCMCO obviamente só pode ser exercida por médicos. Finalmente, há diversos medicamentos que só são liberados com aval do médico (como antibióticos ou antidepressivos).
Dentistas seguem a mesma lógica que médicos; sem contar o conhecimento e equipamentos intrínsecos (todos aqueles robozinhos e luzes!). Alguém já tentou extrair um dente sozinho? (Excluindo o Tom Hanks em 'Náufrago',,,).
Engenheiros também são imprescindíveis, principalmente na questão do cálculo de uma estrutura (qualquer estrutura, desde estruturas de edifícios, passando por cargas elétricas, fluxo de ar/fluidos, etc), sem contar sua função de gerenciamento; obras, tráfego, produção, logística, etc. Há chamamentos diários para concursos públicos, inclusive para empresas privadas (quantas 'vaga de trainee para arquiteto' você já viu?). E questões trabalhistas formais, Segurança do Trabalho, atestados para equipamentos dentro das NBRs.
Arquitetos, bem... Conte quantos concursos públicos exigem arquitetos (e que efetivamente pagam o piso!). Devemos verificar, com cautela, nas novas normas do CAU, as funções privativas do arquiteto, e quais as penalidades a quem não se enquadra.
Esta lista pode ser muito mais extensa, envolvendo diversas profissões e funções - e permeia ainda outros campos da sociedade. Afinal, quantos prefeitos/políticos você conhece que são médicos? E engenheiros? E advogados? E enfermeiros? E contadores? E latifundiários? E líderes religiosos? E cientistas políticos? E líderes populares? E músicos? E comediantes? Ok, e quantos são arquitetos?
De outro modo; quantos casos você já acompanhou que FOI EXIGIDA a participação de um arquiteto? Seja construindo uma casa/reforma, ou desenvolvendo um produto, ou executando um quarteirão inteiro (!). Pense em oferta X demanda e em que momento do processo, o arquiteto é imprescindível, seja por seus conhecimentos, seja por legislação? (agradeço quem me esclarecer).
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Há mais discussão por trás, mas os 'novos mercados' romperam em parte com a 'assimetria da informação' - uma teoria que sustenta que a diferença entre comprador X vendedor/especialista é o acesso à informação crítica.
Faça um passeio em uma loja de acabamentos, e perceberá que o vendedor 'leigo' conhece mais de pisos e acabamentos que o arquiteto; verifique na internet (excelente ferramenta para buscar informações) sobre 'como desenhar minha casa' ou coisa que o valha, e conseguirá programas gratuitos 3D que põem sua idéia no papel e até organizam orçamentos... Converse diretamente com o empreiteiro, que vai executar uma obra sem planejamento mas que acompanhará sua linguagem (a um preço surreal)...
Recentemente, houve a normatização NBR 16280:2014, exigindo a participação de um técnico em reformas internas; seja arquiteto ou engenheiro. É uma lei que já existia, e que décadas mais tarde é referendada por uma norma - mas que ainda assim não garante vagas exclusivas para arquitetos...
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Questionarão se estou defendendo a 'reserva de mercado'. Bom, sim e não. As funções exclusivas se devem à formação, capacidade, exigências.
Conhecimentos específicos do arquiteto estão sendo 'comidos' pelo acesso farto à informação, e ao 'acho que também consigo fazer' - um viva (cauteloso) ao arquiteto que existe dentro de todos nós. Mas entendo que as gerações profissionais anteriores se omitiram quanto a Leis/Normas que exigissem exclusividade.
E é possível 'gerar emprego' com uma canetada? Que tal regular cimento como antibiótico? Para comprar acima de 50kg de cimento CPII, você precisará de uma ART/RRT específica, 'recomendando' tal compra (pode até reter a tal folhinha azul).
Gerar empregos e empilhar papéis. Sem nenhuma garantia de solução de problemas da profissão...